Escrito pelo navegador e escritor brasileiro Amyr Klink, o livro Cem dias entre céu e mar narra sua travessia pelo Atlântico Sul entre a costa da Namíbia, na África e Salvador, Bahia. Ele superou as 3700 milhas náuticas em um barco a remo, batizado de I.A.T. com pouco menos de 6 metros de comprimento, não completamente sozinho, mas acompanhado de fiéis dourados, alegres baleias, ferozes tubarões e muitos outros companheiros que encontrou pelo caminho.
No livro é relatado por diversas vezes que todo o trajeto, construção do barco, alimentação e todos outros detalhes técnicos foram exaustivamente estudados por anos, e que ele só partiu após ter certeza que poderia fazer tudo conforme o planejado.
Quando chegou o dia 10 de junho de 1984, Klink partiu para aquela viagem sem precedentes, com um desejo e uma certeza enorme de atingir seu objetivo. Neste ponto a narrativa lembra por vezes a de Ernest Hemingway em O Velho e o Mar, e a força de vontade e perseverança do velho pescador Santiago que lutava contra o Marlim gigante.
Velho. É o que sou. Quero tudo e nada quero. Posso? Permites-me tal ousadia? Subir a mais alta montanha, conhecer o algures e o nenhures; tocar o fundo de todos os mares e deitar-me com as estrelas e correr como o vento.
A viagem se deu antes da utilização do GPS, quando as posições marítimas só poderiam ser obtidas por meio dos astros e do sextante. Durante a travessia ele ficou por dias sem uma confirmação certa de posição e mantendo contato rotineiro apenas por rádio com alguns radioamadores e poucos navios que tinham conhecimento de sua aventura.
Mantendo um regime de trabalho diário e executando com precisão o que diziam seus estudos, o capitão do I.A.T. superou tempestades, capotagens e encontros com animais que poderiam acabar com seu barco sem oferecer resistência a eles, mas compreendendo o que é o mar, os seres que nele habitam e qual o papel dele naquilo tudo.
O livro traz a história de alguém que tem um sonho e planeja meticulosa e detalhadamente a melhor maneira para vencer os obstáculos até a realização, não apenas com a força física, mas com muito intelecto. Além desse aspecto é emocionante ver como Klink lida com as situações adversas e tocante ver como ele vai se comportando em meio ao isolamento e à solidão na qual se encontra.
Finalmente numa terça-feira, em 18 se setembro, após 100 dias no mar de muita superação, o navegador aportou na Praia da Espera e por ali ficou até o dia seguinte “Na quietude daquela noite, a última, ancorado no infinito sossego da Praia da Espera, sonhando com os olhos abertos e ouvindo outros barcos que também dormiam”.
Pensando bem, que mais poderia alguém no mundo desejar do que olhar nos olhos das baleias, conversar com as gaivotas sobre os azimutes da vida, procurando durante cem dias e cem noites um único objetivo e, subitamente, tê-lo diate dos olhos, ao alcance dos pés, numa tranquila tarde de terça-feira.
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